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Órfãos de Pais Vivos


Este é um tema delicado. Desde o tempo remoto de nossa sociedade ouvimos falar nos órfãos do mundo, dos que foram deixados, abandonados a própria sorte devido a mortes prematuras do pais ou devido a dificuldades diversas para a criação dos filhos.

Mas o que mais temos ouvido falar hoje em dia é dos órfãos de pais vivos. Quem são eles?

São crianças que vivem em famílias que não as nutrem de afeto e de atenção, não interagem, não inserem e nem elaboram limites para as crianças. São famílias muitas vezes abastadas economicamente, mas também temos famílias menos favorecidas que se encaixam no perfil.

A criança pode ser em muitas vezes terceirizada e até mesmo ignorada pelos pais, ou um dos pais. Geralmente se o pai é ausente, a mãe tenta suprir essa ausência, mas nem sempre o resultado é satisfatório. Mas o que é um pai ou uma mãe ausente?

A ausência pela criança é sentida pela falta de atenção e de interesse. As crianças até os dois anos de idade, são essencialmente cenestésicas, ou seja, elas se comunicam e aprendem com o mundo através do contato, do tato, do paladar e do olfato. A criança SENTE. Nesta fase costuma-se estabelecer os primeiros sentimentos de abandono. Pais que trabalham excessivamente, estão sempre cansados, “sem tempo” para as brincadeiras e conversas com os filhos, interagem pouco e não se envolvem afetivamente na educação dos filhos. Isso afasta e desequilibra a relação familiar, que geralmente perdura até a vida adulta da criança. Contudo, tenta-se suprir a ausência com bens materiais, festas, roupas, viagens, etc. Mas tudo o que a criança realmente deseja é a presença.

Neste caso, sempre haverá uma falta. Adultos que experimentaram essa forma de relação podem ser inseguros, com dificuldade de relacionar-se com as pessoas e criar vínculos. Algumas pessoas desenvolvem crenças de NUNCA SERÃO AMADAS e de que não são merecedoras do amor das pessoas. A baixa estima pode estar presente nessas situações. Em alguns casos, pode-se notar apego excessivo a algumas pessoas, e sentimento de posse, trazido pelo medo do abandono. Emoções como raiva em relação ao pai ou mãe ausente são comuns. Pessoas assim, geralmente desenvolvem na infância um Esquema de Abandono, como nos referencia a Terapia do Esquema de Jeffrey Young.

E como lidar com os adultos que foram crianças órfãs de pais vivos?

Para muitos, lidar com a perda dos pais, ou de um dos pais devido a morte prematura, é um processo estabelecido pela mesma dinâmica da superação do luto. A pessoa não “está mais lá”, a mente consegue buscar uma organização temporal e um entendimento da não oferta de afeto devido a algo fora controle de ambas as partes. Mas quando os pais são vivos, “estão lá”, saudáveis fisicamente, a ausência de afeto e interesse fica “sem explicação”, criando uma lacuna de entendimento e consequentemente alguns sintomas (ou todos) citados acima.

Muitas abordagens terapêuticas buscam atuar no cerne desta questão, com resultados interessantes. Mas é notado que em muitos casos, pode ser um processo demorado, pois depende da maturidade psíquica de cada indivíduo e do quanto o paciente está engajado no processo terapêutico.

Técnicas de Ressignificação, Perdão, bem como técnicas da abordagem cognitiva de Aceitação e Compromisso e da analise dos esquemas são bem eficazes e apresentam bons resultados em consultório.

Mas, o que podemos fazer para prevenir adultos e crianças órfãs de pais vivos? Seja um pai e uma mãe presente, de seu tempo aos seus filhos e não coisas. Interaja, demonstre interesse pela vida do seu filho. Pare de olhar seu filho como se ele tivesse 40 anos. Evite exigir comportamentos de adultos para as crianças. Seja amoroso e simples. Brinque, converse e estabeleça limites. Abrace e fale do seu amor para ele. Não tenha medo de ser mais duro quando tiver que ser, mas não seja violento. A criança precisa identificar sua autoridade e não seu desequilíbrio. Seja PAI e Seja MAE!

Um grande abraço e muita PAZ!

Zaionara Gomes

Psicóloga & Coach

CRP 1090/ES

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